segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O segundo festival e minha prova final com o “Doce Refúgio”


Em setembro de 2008, por motivos e prioridades particulares, decidi deixar o Original. Fiquei extremamente feliz quando conseguimos fechar uma equação que viabilizou ao Zé Carlos assumir integralmente o negócio.

A pedido do Zé Carlos e também porque era uma satisfação pra mim, permaneci na sociedade até junho desse ano, de modo que pudesse ajudar no II Comida di Buteco do RJ.

Confesso que saí da festa de entrega dos prêmios em 2008, no dia 03 de setembro, com os 4 pratos na mão e já pensando no que fazer em 2009. Numa passagem por SP, fui desafiado, no bom sentido é claro, pelo repórter Luiz Fernando Vianna da Folha de São Paulo que escreveu numa matéria sobre as invenções dos cozinheiros carioca e falava também do resultado do Comida di Buteco: “Cadinha terá que arriscar muito para se superar”.

Diante disso eu decidi: vou com um prato simples e do cardápio atual !

Morre Luiz Carlos da Vila

Aí veio o pior, morreu o Luiz Carlos da Vila, um amigo, um ídolo, um incentivador do Original, um freqüentador, o sócio que não trabalhava, assim eu brincava com ele.

Tive então a idéia de homenageá-lo. Pensei em flambar alguma coisa com macieira, conhaque de maçã, o preferido dele. Por outro lado o que ele mais gostava de comer era salaminho e azeitona. Putz, e agora ?!

Tem um profissional no mundo artístico que admiro muito pela idealização, pesquisa e o fazer acontecer. Falo do carnavalesco das escolas de samba, pra mim, os maiores artistas do planeta.

Carnavalesco x Cozinheiro, o quê ?!?!?!

Virei carnavalesco, não !, fui pesquisar os trabalhos do Luiz Carlos da Vila. Foi quando a música Doce Refúgio aguçou meu paladar. A história da música dá conta que foi feita numa mesa de bar, onde estavam Luiz e Ubirany, na quadra do Cacique de Ramos e debaixo de uma tamarineira. Quando uma folha da tamarineira repousou no copo de cerveja do Luiz, nascia: “Sim, é o Cacique de Ramos, planta onde todos os ramos, cantam os passarinhos das manhãs...”...Fechou: Luiz Carlos da Vila num dos símbolos do subúrbio carioca, o Cacique, fazendo uma letra com doce e debaixo de uma árvore frutífera, a tamarineira. E o que eu ia fazer com o tamarindo, azeeeedo pra caramba ? Sinceramente, não tinha a menor idéia, se ia decorar ou se ia virar molho, ou sei lá o quê !


Tamarindo, eu disse ta-ma-rin-do, conhece ? Não !

Voltamos a cozinha: nunca havia manipulado um tamarindo na vida, e o
bicho gruda na mão pra caramba. Uma das bandejas que comprei veio com milhões de caruncho. Reservei ingredientes como se fosse fazer um Mango Chutney, ou melhor, Tamarindo Chutney, e no meio do preparo resolvi parar na calda de tamarindo, com açúcar mascavo, açúcar refinado, conhaque, água, canela, cravo e gengibre. Depois de reduzir pra 2/3, estava ótimo, inacreditável !!! Graças a Deus, ufa...

A descrição do prato era: Doce Refúgio – lombinho de porco folhado e versado na tamarineira, daí veio a utilização de folhados em forma de torradinhas. Acompanhava o prato uma farofinha de torresmo.





Foram 5 testes e 5 diferentes apresentações até chegar no prato que conquistou o 2º. Lugar no Comida di Buteco de 2009, ficando atrás pra deliciosa empadinha de queijo coalho com alecrim da Academia da Cachaça. Prêmio merecido, ótima casa, com padrão, gestão, bom atendimento e boa comida.

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