domingo, 22 de agosto de 2010

:: A Coxia da Boemia Carioca - botecando pelos arredores e subúrbios do Rio ::

Caravana do Cotovelo Cinza

Arredores e Subúrbios Cariocas,
14 de agosto de 2010




Publicada no FotoGlobo, o Blog de Fotografias do O GLOBO, devidamente registrada pelo etílico-gastronômico-responsável-fotógrafo BERG SILVA e comentada por nosso ilustre e unânime Lord dos Botecos, GUILHERME STUDART




:: O Cardápio do Dia era:


Bar Flor do Tâmega - Santo Cristo


Bar Santa Genoveva - São Cristovão


:: Vale a pena dar esse rolé conosco pelos bares que estão na coxia boêmia mas que fazem o show continuar.

Acessem:



Esperem aí sentadinhos, em breve meu post completo.


Aí vai:

:: Texto de Guilherme Studart e fotos de Berg Silva, Plinio Gomes Figueiredo e Carlos Henrique Cadinha

"Aquele poderia ter sido um sábado como tantos outros, para ficar em casa junto à família, curtindo o dia de descanso. Contribuía para isso uma manhã característica de inverno carioca, que anunciava a chegada de um dia frio e cinzento.



Não seria, entretanto, um dia corriqueiro. A proposta de empreender uma expedição etílico-gastronômica com o objetivo de registrar imagens em sete botequins pouco conhecidos do grande público, e que ainda mantêm um encanto genuinamente carioca, era, afinal, irrecusável. Uma van foi contratada especialmente para esses deslocamentos de bar em bar.

O grupo, composto por dez pessoas, incluindo os fotógrafos Berg Silva e Plínio Figueiredo, iniciou sua jornada subindo o histórico Morro da Conceição. Nosso primeiro destino era o Bar do Sérgio, que fica numa rua com o sugestivo nome de Jogo da Bola. Misto de mercearia e bar, possui paredes revestidas por azulejos azuis e amarelos e assoalho de granito antigo. Para acompanhar a cerveja, provamos bolinhos de carne.



De lá rumamos ao Santo Cristo, na Zona Portuária, para um boteco em frente à igreja principal do bairro. Atendendo pelo nome de Flor do Tâmega, o local é um desses bares quase esquecidos, uma espécie de sobrevivente em seu estilo.

Fomos atendidos pelos irmãos Francisco e Waldemar e, para forrar o estômago, pedimos o especial do dia, o caldo de mocotó. O ambiente, que remete imediatamente aos antigos botequins, possui um grande balcão e, nas paredes laterais, podem ser observadas pinturas antigas, já um tanto esmaecidas, incluindo uma da pracinha do Santo Cristo.





O terceiro destino da excursão ficava em São Cristóvão, o Jardim da Quinta, bar comandado por Dona Olinda e sua filha Vera. Com azulejos alaranjados nas paredes e uma figura protetora de São Cristóvão no centro, o bar serve comida caseira de qualidade. À frente da cozinha há mais de 40 anos, Dona Olinda prepara deliciosas empadas de camarão, as quais foram gulosamente consumidas pelo grupo, sempre escoltadas por cerveja bem gelada.






Ainda em São Cristóvão – apenas a duas esquinas de caminhada do bar anterior – esticamos no Santa Genoveva, situado quase em frente à vila de mesmo nome. Os azulejos que adornam as suas paredes, em tons azuis e amarelos, juntamente com o balcão alto em metal, compõem um típico botequim tradicional. O bar é dirigido pelos irmãos José e Antônio e, no salão, quem impera é o garçom Cabelo.
                    


Para começar, pedimos caldo de feijoada acompanhado de porções de salaminho e queijo provolone. Como contraponto aos tira-gostos, tomamos batida de maracujá, uma receita exclusiva da casa, que é incrementada com licor de anis. Para rebater o efeito do maracujá, foi a vez de pedir uma porção de linguiça com molho à campanha e ainda uma generosa travessa de picanha na brasa fatiada ao alho, acompanhada por farofa.



De São Cristóvão esticamos para Benfica, tendo por destino o boteco Fica Bem, que só poderia mesmo estar localizado naquele bairro. De ambiente em tonalidade azul-clara, é um exemplo de resistência às ondas modernizantes que vez por outra despontam.


A recepção por parte da proprietária - uma senhora portuguesa chamada Ângela - não foi, a rigor, das mais amistosas. Ao perguntarmos seu nome, ouvimos de forma enfática: “E faz diferença?”. Foi o suficiente para que essa fosse eleita a frase do dia. No entanto, à medida que as fotografias iam sendo tiradas, o sorriso surgia em seu rosto e o tratamento se tornava mais cordial. Nesse bar, o grupo experimentou pastel cortado à francesa com cerveja gelada.




Rumamos então para o Bar Varnhagen, localizado na praça de mesmo nome na Tijuca. Era o único dos bares visitados que não constava do roteiro original, por ser botequim um pouco mais conhecido. Mas foi incluído no passeio devido à sua semelhança com os ouros bares visitados.

Fomos recebidos por Dona Natalina e sua filha Cidália, que nos ofereceram uma recepção verdadeiramente calorosa. Após nos acomodarmos em uma mesa na calçada, provamos os seus famosos croquetes de carne e porções de pernil de porco em cubos com salada de batatas. A cerveja foi nossa fiel acompanhante, mas lá não poderíamos deixar de pedir também a clássica batida de limão galego.





Terminamos o périplo no Britan Bar, mais conhecido como Bar do Zé, situado em uma subida escondida na Glória. De atmosfera descontraída e ambiente de mercearia antiga, o local evoca inevitavelmente Santa Teresa. Comandado por Seu Zé e sua esposa Ivonete, foi, dentre os bares visitados, o único em que nosso pedido se restringiu à cerveja gelada, uma vez que, após a longa jornada, já estávamos de estômago e espírito saciados." 



por Guilherme Studart

SERVIÇO:

:: CAFE RESTAURANTE FLÔR DO TAMEGA
Rua Santo Cristo, 193 - Santo Cristo - Rio de Janeiro -  RJ

Tel.: (21) 2233-9789

:: CAFÉ E BAR JARDIM DA QUINTA
Rua São Cristóvão, 321 - São Cristovão - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2589-4303

:: CAFÉ E BAR SANTA GENOVEVA
Rua São Cristóvão, 471 - São Cristovão - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2589-8681

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

:: Botecando diplomaticamente - Eu, Paulo Leão Veloso e Osvaldo Euclides de Sousa Aranha

Degustando a história através da divertida
culinária carioca




:: A culinária do Rio de Janeiro herdou da corte portuguesa, e da época que foi a capital do país, grande parte de suas comidas. A feijoada e o bacalhau são os representantes maiores da culinária carioca, além do caldo verde e do bacalhau. O tempero é usado com parcimônia.

Alguns donos de restaurante afirmam que o prato carioca é um estado de espírito. Outros conferem ao Rio a autoria da feijoada completa e da comida de botequim, verdadeira instituição da cidade beira-mar.

A culinária carioca tem algumas peculiaridades, como o amor pela tradição portuguesa. Em nenhum outro lugar do Brasil se respeita com tanto gosto o ritual do cozido e se andam tantos quilômetros atrás de um caldo verde ou de uma isca de fígado.

O Rio também tem uma cozinha de vanguarda internacional, pronta para as grandes festas, recepções e banquetes oficiais. Sem nenhum preconceito os cariocas provam, aprovam e adotam pratos regionais de todo o país.

A cozinha clássica carioca reserva ainda muitas tentações. Nenhum de seus pratos, diga-se, caracteriza-se pela leveza. São comidas fortes, substanciosas e marcantes.

A cozinha do Rio de Janeiro é isso:
descontração, ingrediente fundamental que fez do Estado a terra da bossa.


Onde mais poderiam existir pratos com nomes de embaixadores, como o filé Osvaldo Aranha e a sopa Leão Veloso?

:: Filé à Osvaldo Aranha





Filé à Osvaldo Aranha é um prato típico carioca, homenageando o político gaúcho Osvaldo Aranha. Consiste em um filé mignon alto ou um contra filé, temperado com alho fatiado, acompanhado de batatas portuguesas, arroz branco e farofa.

O prato recebeu seu nome em homenagem ao diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, que entre as décadas de 1930 e 1940, costumava almoçar no restaurante Cosmopolita, cujo apelido era “Senadinho” na Lapa, Rio de Janeiro, local de concentração de políticos na época. Ali o diplomata costumava almoçar o prato que levou seu nome. Oswaldo Aranha também pedia o mesmo prato no Café Lamas, que na ocasião também o incorporou ao cardápio.

O Cosmopolita é o detentor da origem, mas dois restaurantes da cidade também ganharam o título de mestres no preparo do legendário filé. São eles: o centenário Café Lamas, no Flamengo, e o Filé de Ouro, que há quarenta anos funciona no Jardim Botânico. Ambos têm pratos fartos e são muito freqüentados por jornalistas, artistas, intelectuais e toda a gente.


Outro filet muito conhecido é chamado de à moda francesa. Costuma ser servido nos pontos tradicionais da cidade. Entre todos, o mais famoso sai da cozinha do Lamas, botequim que oferece cozinha de qualidade, fundado em 1874 no Largo do Machado, no Centro, e transferido para o Flamengo, em 1976.



Ali, o filet à francesa, alto e suculento, chega à mesa acompanhado de presunto, petit-pois (ervilha pequena), cebola e batata palha, como manda o figurino.


:: Sopa Leão Veloso



Igualmente cobiçada é a sopa Leão Veloso, outro clássico carioca. De sabor forte, leva caldo de cabeça de peixe e camarão, frutos do mar, coentro e alho-poró. Surgiu no restaurante Rio Minho, na Rua do Ouvidor, no Centro, uma instituição na cidade, com seus 121 anos de história, inspirada na francesa bouillabaisse.

Mas a receita correu e ainda hoje pode ser encontrada em vários lugares. “Todo mundo copia”, lamenta um dos sócios do Rio Minho, o espanhol Ramón Dominguez. Leão Veloso era um gourmet experimentado. Foi embaixador do Brasil na França, de onde trouxe a fórmula da sopa de peixes, que no Rio Minho sofreu adaptação aos ingredientes nacionais. “Usamos a cabeça do cherne para preparar o caldo e todos os frutos do mar bem frescos”, explica Dominguez. A sopa tem muita personalidade e leva polvo, mexilhões, lulas, além de bastante tempero.

Paulo Leão Veloso foi diplomata. Atuou em diversos países e quando representou o Brasil na França, teve contato com um prato típico da região do Mediterrâneo: a Bouillabaisse! Sopa feita pelos pescadores do Porto de Marselha, geralmente com peixes menos nobres, que não tinham muito valor comercial.

Voltando ao Brasil, resolveu introduzir a receita por aqui e. como devia ser muito modesto, a batizou com seu nome. Com algumas mudanças começou a desenvolver a receita utilizando a cabeça de Cherne e Camarões para o Caldo. Foi no Restaurante do Rodriguez, no Rio de Janeiro, que a sopa tomou forma. A maneira de preparo é quase idêntica a da Boillabaisse, ficando de fora o Açafrão. Aqui é normalmente servida com peixe, camarões, mariscos, lula e polvo, mas a receita varia conforme a disponibidade de cada ingrediente.




:: Bouillabaisse é um prato típico da culinária francesa, comum na região do mediterrâneo, que consiste de uma sopa preparada à base de peixes brancos variados, frutos do mar e ervas aromáticas. La Bouillabaise é uma das sopas mais famosas do mundo originária da charmosa cidade e porto do Mediterrâneo - Marselha.

A história popular da origem dessa sopa , sugere que Vênus - deusa da beleza serviu bouillabaisse a seu marido, Vulcano para colocá-lo para dormir enquanto tinha um encontro amoroso com Marte. Escritores gregos argumentam que por volta do ano 600 AC os fundadores de Marselha levaram consigo da Grécia a receita de uma sopa de peixe conhecida como kakavia que serviu de base para a futura bouillabaisse.

Com o tempo, o prato foi sendo aperfeiçoado e encontramos inúmeras receitas ditas originais. Hoje os marselheses o degustam assim: primeiro, só o caldo do peixe com roille (molho picante à base de maionese, pimenta malagueta e alho). Depois, os pedaços dos vários peixes, imersos num pouco do caldo. A característica diferente, no entanto, não é o peixe, mas o aroma e o sabor original dos ingredientes que se mesclam e transformam o bouillabaisse em algo especial.

Como qualquer prato antigo, a Boullabaisse passou por muitas alterações. Feita com produtos extremamente frescos e de alta qualidade, seu aroma, que remete aos frutos do mar, é rico e inebriante, elevando os pensamentos de qualquer comensal ...


As receitas variam, mas normalmente se compõem de peixe, camarões, lagostas, batatas, azeite de oliva, pimentões, alho poró, tomilho, louro, molho de tomate concentrado, cenouras, cebolas, açafrão e dentes de alho.Um famoso escritor provençal, Jean-Noël Escudier, apelidou a Boullabaisse de "síntese mágica". Outro famoso epicurista francês, Curnonsky, a chamou de "soup d’or", a sopa de ouro.

Serviço:

:: Café Lamas - R. Marquês de Abrantes, 18 – Flamengo - Tel: (21) 2556-0799



:: Restaurante Cosmopolita - Travessa do Mosqueira, 4 – Lapa - Tel: (21) 2224-7820

:: Rio Minho - Rua do Ouvidor, 10 - Centro - Tel: (21) 2509-2338