segunda-feira, 31 de maio de 2010

:: Tremoços, um ritual de boteco que resiste a era dos bolinhos com tudo dentro

Inaugurei meu primeiro bar
com 3 vidros de conserva sobre o balcão:
um de pikles, um de azeitonas e outro de tremoços.

:: Lembro que comprei dois baldes de tremoços no MAKRO do Mercado São Sebastião, exatamente no dia 07 de dezembro de 2004, véspera do dia de Nsa Sra da Conceição e da inauguração do Bar O Original do Brás, em Brás de Pina, RJ.



Já contei aqui, que sou filho único, e quando criança, ia pro ponto da Avenida Vicente de Carvalho esquina com Lafayette Stockler na Vila da Penha (em frente ao Banco do Brasil), esperar o ônibus da empresa do meu Pai chegar. Sempre, quero dizer, todos os dias mesmo, por volta das 18h, Wilson Ferreira Cadinha, meu Pai e conhecido como o Wilson Saideira, fazia sua contribuição etílica-voluntária para os botecos da região.

Engajado com as causas botequeiras e solidário, um dia frequentava o Bar do Claudio (Lafayette Stockler com Pascal, onde sempre encontrávamos o Luiz Carlos da Vila), outro no Artur do Peixe (naquela época ainda na Praça da Cetel, em frente ao colégio Albert Sabin), ou no Josué (Oliveira Belo onde tinha uma empadinha fantástica e uma sinuquinha pra divertir) ou no Seu Antônio (Lafayette com Rua Volta, esse mais arriscado, pois dava pra ver da janela lá de casa e a Dona Nini marcava igual a Junior Baiano e Ronaldão, sob pressão e se precisasse dava uma voadora no corôa)...rsrsrs...era divertido !!!



Impossível precisar o número de vezes que perdi meu Pai e quando o encontrava ele estava escondido atrás de uma montanha de cascas de tremoços. O velho, português de Espinho, saboreava copiosamente aqueles ervilhas salgadas, representando de fato, um ritual para acompanhar sua Brahma Chopp servida no seu copo exclusivo (tinha um em cada bar).


Comparo comer tremoços a comer caranguejo, um ritual que não mata a fome, mas é saboroso e divertido !

Enquanto eu bebo uma gelada e começo a montar meu lego de cascas de tremoços, vocês irão conhecer um pouco sobre esse simples snack.





:: Ligeiramente salgados, não há quem lhes resista. Um aperitivo "humilde", mas rico em termos nutritivos (Ô Sorte !, diria seu chará Wilson das Neves).


Conta a lenda que quando a Sagrada Família se dirigia para o Egito, para fugir à perseguição do Rei Herodes, que queria matar Jesus, passou por um tremoçal cujos tremoços, ao serem pisados, teriam feito muito barulho e deixado pegadas, denunciando a fuga. Nessa altura, Nossa Senhora tê-los-á amaldiçoado, dizendo que nunca matariam a fome a ninguém.


A partir daí e durante séculos, esta pequena leguminosa, tal como as ervilhas e as favas, ficou mal vista. No entanto, os povos antigos reconheciam-lhes várias espécies, sendo a amarela a mais comum entre nós. A origem do seu consumo estará provavelmente no Egito, e há quem opine que foi introduzido na Mesopotâmia na época greco-romana e a partir daí terá sido transportado pelos Fenícios para todo o Mediterrâneo. Mas existem também referências ancestrais a esta leguminosa na América do Sul, onde era utilizada como alimento básico.


:: Sempre acreditei nas propriedades fitoterápicas da gastronomia de botequim


Pelas suas características proteicas, foi um dos pilares alimentícios de todos os povos do Mediterrâneo. Já Hipócrates, o pai da Medicina, recomendava o seu consumo, há quase 2500 anos, para evitar problemas digestivos e prevenir doenças hepáticas.


Também Plínio, o Velho, provavelmente o naturalista mais importante da Antiguidade, defendia que não havia alimento mais saudável e fácil de digerir que o tremoço. Mais tarde, Frederico, o Grande, rei da Prússia, conhecedor das suas propriedades, mandou plantar na Alemanha numerosas terras com tremoceiros...




:: Tremoços, só cozidos e demolhados e água salgada

Não é por acaso que só encontramos à venda tremoços cozidos e demolhados em água salgada. É que se não levassem este tratamento seriam extremamente tóxicos e amargos devido a substâncias alcalóides que contêm e que poderiam ser nefastas para a saúde, nomeadamente para o sistema nervoso. Ou seja, o tremoço acabado de sair da planta, em grão seco, não é comestível, igualmente a semente da oliveira, a qual chamamos de azeitonas.




Antes de pedir a saideira, vejam só esta maravilha. Um cartaz que se encontrava numa das melhores tascas do Algarve, onde as "MINIS" (nossas long neck) estão sempre geladas e os TREMOÇOS nunca faltam, e ainda por cima também tem amendoins !!!

Espero que tenham gostado, eu adorei !!!

Esse post é uma homenagem ao meu Pai, Wilson Saideira, que completaria hoje, dia 31 de maio, 65 anos de idade. Saudades do velho...

Então vamos brindá-lo com uma Brahma Chopp gelada, um pote de tremoços, um sambinha de raiz tocando, uma conversinha sobre o Flamengo e aquele papo descontraído de boteco que faz a hora voar !!!

Carlos Henrique Cadinha

quinta-feira, 27 de maio de 2010

:: Começa o III Comida di Buteco do Rio de Janeiro


:: III Comida di Buteco do Rio de Janeiro
começa hoje (28 de maio) e vai até 27 de junho
para eleger os 5 melhores botequins do Rio
nos quesitos Melhor Petisco, Melhor Atendimento, Melhor Cerveja Gelada e Melhor Higiene.

Botequeiros Cariocas, organizem-se, convidem os amigos e familiares e percorram os 31 bares da terceira edição do festival. Prestigiem os botecos cariocas, experimentem os petiscos inscritos, façam caravanas e percorram todo o circuito com responsabilidade.


Não esqueçam de votar !!!



:: Temos o desafio de manter "a verdadeira" gastronomia de botequim e a cultura dos botequins cariocas.

Nós encontramos no próximo bar, até já e boa sorte para todos os Donos de Boteco !!!






Saiba como foram as edições anteriores em:


Saiba tudo sobre o Comida di Buteco:



(somente para esclarecimento, eu, Carlos Henrique Cadinha, não estou  participando esse ano com nenhum petisco ou como proprietário dos bares participantes. Estarei curtindo o festival, mobilizando os amigos, divulgando e prestigiando meus amigos donos de boteco...Ô sorte !!!)