segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Segundo Dia de Desfile, comentado ao vivo, direto da Sapucaí, na visão, ainda embaçada e com aquela "areinha" de um blotequeiro.

G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel

Mocidade canta o paraíso pra espantar o inferno que a afasta do título desde 1996 e do desfile das campeãs desde 2003


Que torcida pra que a Mocidade volte a fazer aqueles desfiles da época do Renato Lage. Começa com uma vantagem, um dos melhores puxadores do Rio, Nêgo, irmão do Neguinho da Beija-Flor, como segunda voz, que juntamente com a bateria do Mestre André, sob o comando de um estreante, Mestre Beréco, tem tudo pra manter o ritmo e a batida no alto o tempo todo. Cid Carvalho, ex-comissão de carnavalescos da Beija-Flor, chega com o desafio de fazer a Mocidade retornar no sábado.
A Comissão de frente bem clássica, trazendo uma Macieira, a árvore do conhecimento, trazendo Adão e Eva, todos bem coreografados, marcada com alguns passos de ballet e dança russa. O carro abre-alas trouxe o Jardin do Éden com nome de Paraíso Tropical, figura carimbada em vários enredos de outros carnavais, mas, mesmo assim, veio muito bonito, colorido, brilhante e iluminado o caminho da escola.
Samba-enredo muito bem escrito, linda letra, porém daqueles tipo Beija-Flor, difícil de cantar, embora com bom refrão, aliás, ótimo refrão. Mesmo sendo difícil de ser interpretado pelo público, não pros julgadores, o refrão é tão forte que fez o público cantar. Fiquei surpreso, satisfatoriamente. Assim como aconteceu com o samba da Imperatriz, o samba da Mocidade se desenvolveu muito bem na Avenida, 90% disso deve-se a bateria e aos puxadores David do Pandeiro e Nêgo. Com 30 minutos de desfile a bateria dá um show, é a guitarra de Eric Clapton, inconfundível, ímpar, com identidade e CPF.
Ninguém vai admitir, mas tá fácil de identificar alguns nucleótidos do DNA Beija-Flor, desde o samba-enredo, a formação da escola na avenida, as alegorias, componentes ensaiados, o que é totalmente compreensível pela presença do Cid Carvalho, que deu um pulinho ali em Padre Miguel, rapidinho, dar uma força pra co-irmã. O Laíla falou: "Cid, 4 vês !!!".
A Mocidade desfilou com paixão, saiu do inferno e entra na fila do paraíso das cinco que voltam no sábado, mas dificilmente briga pela primeira colocação.


G.R.E.S. Porto da Pedra
Despiu-se da modéstia e vestiu a avenida com uma variação de tons dourados e amarelos, deixando a dica da roupa que ela ia vestir na festa e desfilar na avenida. Mas faltou a tecla SAP.


Abrir um desfile com o símbolo da escola, acabamento de primeiríssima, articulação made in Parintins e num carro acoplado, é no mínimos ousado. O tigre retrô-contemporâneo, que até piercing tinha, impactou na chegada. A primeira impressão é a que fica, e a Porto do Pedra que normalmente faz desfiles modestos, usou e ousou dessa máxima e quebrou o gelo.
Vestiu a avenida com tons de amarelo, dourado, laranja, cor de tigre quando não foge, e criou um efeito muito bonito, uma compactação rara de se ver e que eu particularmente gosto, lembrando antigos desfiles da Mangueira que variava muito os tons de poucas cores. Por outro lado, o ônus dessa compactação foi a dificuldade de algumas alas evoluírem em função dos adornos de algumas fantasias, um verdadeiro bate-bate.
O samba-enredo "Com que roupa eu vou...", na minha avaliação, o pior desse ano, foi bem levado graças as consecutivas paradinhas da bateria "ritmo feroz" do Mestre Thiago Diogo, foram muitas mesmas, até com variação de ritmos. Desconfio que os jurados mais catedráticos irão descontar pontos da Bateria pelo excesso de paradinhas. Luizinho Andanças mandou bem, garantindo a continuidade de bons puxadores no carnaval carioca.
Com alegorias pouco inteligíveis, o público mais curioso seguramente sentiu falta por não receber a sinopse completa na chegada ao sambódromo. Paulo Menezes optou por um desfile nada óbvio para um enredo cotidiano e aparentemente fácil de desenvolver, mas continuo achando que faltou a tecla SAP. A alta costura esteve presente na segunda parte do desfile embora não seja facilmente identificada por 98% dos habitués presentes. Paulo Menezes optou em trazer os grandes estilistas numa alegoria em forma de festa. Foi uma proposta, mas que na minha opinião não combina com a mecânica robotizada da alta costura.
A harmonia parece que esqueceu do quinto elemento, ou melhor, quinto jurado, e evoluiu bem até os 70 minutos. Depois disso foi aquele "vamo, vamo, vamo !!!".
O fechecler, que abre e fecha, pra Porto da Pedra está nos quesitos Samba-Enredo e Enredo, muito subjetivos.


G.R.E.S. Portela
A Entidade do Samba topa o desafio, abre mão do extremo tradicionalismo, convida a avenida para a era da Inclusão Digital e se depara com uma linha cruzada. A Era da Inclusão Digital transformou-se na "Era Pré-Segunda Ruptura" ou "Era Nova Geração de Sambistas Portelenses" com assinatura "chega Velha Guarda, já tá bom".


Depois do Tigre, outro carro abre alas acoplado, a tradicional Águia vem high tech, estilizada a ponto de ficar quase irreconhecível, e voa baixo abrindo o desfile da Portela. Se história e a real participação de nomes ilustres de 4 gerações do samba contasse ponto, a Portela sairia na frente.
Depois de uma escola que trouxe o dourado predominantemente, a Portela vem toda prateada, o que combinado com luzes e tons de azul, cria uma atmosfera digital. Portela "by Matrix". Do samba-enredo contestado pela própria comunidade, com título no gerúndio, alinhado com o movimento do Rio de Janeiro para a inclusão social através da Internet, sobra somente dois bons refrões.


Tentar fazer conexão de Samba x Portela x Inclusão Digital x Polícia Pacificadora, pra mim, é tentar fazer um merchandising público mais que explícito. Quase levantei e parei de brincar. Vamos em frente. Não vivenciei os acontecimentos que levaram a ruptura da Portela e consequente criação da Tradição, mas vejo uma Portela irreconhecível passar na Avenida, sem identidade (basta imaginar Monarco e Manacéia, acessando o Google Buzz e cantando esse samba).

A Portela parece buscar um título a qualquer preço, depois de um terceiro lugar em 2009, sob o risco de uma nova ruptura que coincide, ou não, com a transição entre gerações de sambistas, vide Diogo Nogueira.
Enredo pra Renato Lage, somente, que pra ser desenvolvido não pode ser à brinca, tem que ser à vera. Um parênteses: sou Engenheiro Eletrônico e com especialização nas áreas de tecnológia e administração. Uma vez escolhido um enredo de alto risco como esse, tratando-se de Portela, deve-se assumir o ônus de tratar de forma extremamente superficial um tema que além de amplo é dinâmico.

Fecha o parentêses aí por favor, obrigado.
Chega: Ctrl+Alt+Del > Desligar computador, interrompendo esse cometário aos exatos 69 minutos.

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